A juventude brasileira, em termos absolutos, nunca foi e provavelmente jamais será tão numerosa como atualmente. Em 2003, o país possuía 33,85 milhões de jovens entre 15 a 24 anos, o que representava 19,5% da população. A cada ano, praticamente, a crista dessa onda demográfica vai se deslocando para idades mais avançadas. Até tal onda passar, a preocupação com a juventude estará, ao menos demograficamente, justificada.
Sobre este grupo etário concentramos grande parte de nossas expectativas a respeito de um futuro melhor. Por outro lado, vitimizados por heranças trágicas, como a pobreza de suas famílias, o grau de desigualdade que não se reduz, a falta de serviços sociais básicos etc., os jovens são também um grupo vulnerável que sofre e gera problemas. Estará a sociedade brasileira garantindo a seus jovens as oportunidades adequadas para um futuro promissor? Que problemas específicos atingem nossos jovens hoje e ameaçam o bem-estar futuro do grupo?
Oportunidades educativas
Tomando como referência a situação da juventude chilena, país com renda per capita semelhante à nossa e níveis de escolaridade muito mais altos, ou a situação dos jovens filhos da elite sulista, podemos afirmar que o Brasil, independentemente do nível de escolaridade tratado, ainda não está oferecendo aos seus jovens as oportunidades adequadas para se educar, apesar do incrível progresso da última década. Além disso, a desigualdade educacional em nosso país permanece alta e extremamente relacionada ao ambiente familiar.
Tempo necessário para o Brasil atingir a escolaridade média jovens que a elite na região sul tem hoje
Vale enfatizar dois pontos. Primeiro que a matrícula em Educação de Jovens e Adultos (EJA) está muito aquém das necessidades da população jovem: representa somente 6% da população de jovens fora da escola sem o fundamental completo e 11% daqueles fora da escola com o fundamental completo, porém não o médio. O segundo ponto é que o grande gargalo atual está na educação superior. A proporção de concluintes da educação média com acesso à educação superior tem declinado ao invés de expandir-se, como seria desejável. Apenas 12% dos jovens de cada coorte têm acesso à educação superior no país.
Oportunidades para trabalhar
Qual deve ser o maior problema laboral a atingir a juventude brasileira: entrada, acesso permanente ou nível de remuneração? O estudo apresenta uma discussão sobre todos esses temas. Mas o principal ponto a ser destacado é o conflito enfrentado pelos jovens entre trabalhar e estudar. Evidentemente, tal conflito só existe para aqueles que têm ambas as oportunidades. Para grande parte dos jovens, são as oportunidades educativas que continuam faltando, muito mais do que as oportunidades para o trabalho. Enquanto 50% do total de jovens trabalha, entre os mais favorecidos, são 33%. Por outro lado, temos 50% do total de nossos jovens na escola ao passo que, entre os mais ricos, a inserção educacional sobe para 80%.
Têm, os jovens, melhores condições de vida que outros grupos etários?
O bem-estar dos jovens é fortemente afetado pela renda de outros membros da família. De fato, 75% dos jovens possuem renda própria inferior à renda per capita da família à qual pertencem e mais da metade não tem renda própria.
Comparando jovens e adultos, conclui-se que, apesar de os primeiros estarem em piores condições em termos de renda familiar per capita, quando tomamos medidas de pobreza mais abrangentes, como o índice de desenvolvimento da família (IDF), o mesmo não é verdadeiro. Ao longo da última década, o hiato entre jovens e adultos em condições de vida tem se reduzido, exceto no caso da renda familiar per capita.
A violência como ameaça para o futuro
Se a morbidade por causas externas não parece ser um problema entre os jovens brasileiros, o mesmo não pode ser dito a respeito da mortalidade. A taxa anual de mortalidade por causas externas entre a população de 20 a 29 anos supera 100 óbitos por 100 mil pessoas e entre a população como um todo é de 67 óbitos por 100 mil pessoas.
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