* Erika de Souza Bueno
Na vida, tudo depende do que há dentro de você, tudo o que, de uma forma ou de outra, um dia entrou e ocupou espaço em seu interior. As nossas prioridades regem os nossos desejos e aquilo que, consequentemente, somos ou queremos ser.
Por causa de conteúdos não-administrados, muitas vezes não há palavras e conselhos que sejam capazes de nos impedir de fazermos alguma coisa. Alguém já disse que somos a segurança do nosso não e o resultado do nosso sim, ou seja, somos o que nos permitimos ser.
Dentro de você, há pensamentos e considerações que, advindos de circunstâncias com intenções duvidosas, podem levá-lo a caminhos tortuosos nos quais nem os pés mais habilidosos conseguiriam andar.
São conceitos que vêm de trechos de filmes, de conteúdos insanos de novelas, de aplausos pela morte fria e lenta de um vilão, de frases impensadas de pessoas que “explodiram” em ira, de cenas em que a violência não pareceu tão séria ou foi até mesmo justificada. Enfim, há em você muito mais do que se pode à primeira vista imaginar e, por isso, é necessária uma autoadministração.
São significados que, na maioria das vezes, não foram objetos de muita atenção, pois não se queria naquele momento se envolver com eles. Aliás, parece que sempre temos coisas mais importantes para nos ocupar do que simplesmente com o que ouvimos e aceitamos de “relance”. Contudo, querendo ou não, estão dentro de nós e, quando menos se percebe, podem refletir em ações e nas formas como as coisas são vistas e consideradas.
As inseguranças, os temores, os receios, as saudades, a vontade de gritar... O desejo de ter uma vida diferente; a insatisfação pela rotina vivida hoje; a ausência que não se aceita; o fim que não encontra um recomeço; a dor que parece não acabar; as noites maldormidas. São, enfim, conceitos, considerações e pensamentos que povoam nosso interior em busca de evasão, os quais desde já precisam de moldagem, de trabalho, de administração pessoal.
Não estamos acostumados a refletir, não temos tempo para isso, parece que vivemos por viver, tal como robôs programados a uma determinada tarefa. Seguimos nossa rotina e não esboçamos nenhuma reação diante das lágrimas e sofrimentos de outras pessoas. Estamos neutralizados, acostumados à violência, principalmente quando ela não bate em nossa porta.
Se não tivermos tempo para nós, para darmos tratamento a tudo o que ouvimos e vemos, tudo isso chegará a ocupar mais lugar dentro de nós do que pensamentos bons e desejo de dias melhores para nossas crianças.
A esperança dará lugar ao pessimismo, o amor simplesmente não existirá, a lei do “olho por olho; dente por dente” ganhará formatos nunca antes imaginados, a violência será corriqueira e não causará nenhuma compaixão. Tudo pelo fato de termos, simplesmente, nos acostumados a conceitos que entraram em nós por meios tão tênues, mas que agora tomaram espaços muito maiores em nós.
O que assusta é que já vemos reflexos deste mal em nosso meio. Muitos conseguem assistir aos violentos noticiários enquanto jantam após um dia cansativo de trabalho.
É preciso dar um basta, o silêncio diante de uma inverdade é tão prejudicial como a negligência diante da necessidade de socorro de alguém. É preciso alimentar nosso interior com desejo de justiça, com esperança no ser humano e, ainda mais do que isso, com disposição para buscarmos a paz em nosso meio.
É preciso dar um basta, um ponto final em tudo aquilo que quer tomar o lugar dos bons conselhos dados pela nossa família, pelos nossos professores, por aquelas pessoas que, de fato, querem o nosso bem.
* Erika de Souza Bueno é Coordenadora-Pedagógica do Planeta Educação e Editora do Portal Planeta Educação (www.planetaeducacao.com.br). Professora e consultora de Língua Portuguesa e Espanhol pela Universidade Metodista de São Paulo. Articulista sobre assuntos de língua portuguesa, educação e família.
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