Abaixo, publico trecho de um texto escrito há quatro anos que tem validade ainda hoje. Aponto há muito mais tempo as aspirações autoritárias do PT, quando o partido ainda era oposição e se fazia de vítima. Quero dizer com isso que tenho certa sensibilidade para identificar posturas autoritárias ainda na sua fase larvar.
Marina Silva, a queridinha de alguns artistas do miolo mole que supõem entender o que ela diz, afirmou hoje que as medidas anunciadas pelo Ministério da Fazenda para aumentar a segurança dos contribuintes foram inspiradas em propostas que ela fez no debate de domingo. Tenha paciência! Qual foi a sugestão dela? “Punir exemplarmente os transgressores”. Não me diga!
A candidata do Partido Verde tenta, curiosamente, tomar para si essa bandeira com o seguinte mote: “Isso não pode ser explorado politicamente nem por um lado nem pelo outro”. Um dos lados é o dos petistas, que violaram os sigilos; o outro seria o dos tucanos, que tiveram seus dados violados. Marina acha que, quando a vítima reclama, está fazendo “exploração política”.
Segundo a tese da dissidente companheira da floresta, ela, que não foi atingida pela violação, tem mais legitimidade para protestar do quem foi atingido. Mais ainda: quando ela critica o crime, não está tentando ganhar votos, não! Está apenas pensando no nosso bem. Já o tucano José Serra, cuja família foi devassada, revela interesse puramente eleitoreiro.
Lamento que o despreparo intelectual reinante — falta de bibliografia mesmo! — não se dê conta do viés autoritário do pensamento de Marina Silva, ao menos do que dá para entender daquela borrasca de abstrações. Essa sua “postura” sobre o sigilo é uma das manifestações, mas não é a única.
Nos debates, mais de uma vez, eu já a vi se dirigir aos oponentes — por incrível que pareça, consegue fazer com que até Dilma tenha razão às vezes — para saber se eles se comprometem ou não com metas e pontos de vista que são de… Marina!!! Nesse particular, segue as pegadas do Plínio de Arruda Sampaio, o Quatrocentão Maluquinho. Notem: não é que Marina tenta provar que suas escolhas são melhores e as dos outros, piores. Não! Os outros seriam ruins apenas porque não são ela. Ora, se Dilma e Serra pensassem como Marina, estariam todos juntos, não é mesmo? Qual é a síntese dessa postura? “Você é pior porque não pensa como eu penso”. O que tem de ser demonstrado é que as escolhas do outros são piores porque conduzem a resultados piores.
Mas Marina não debate na terra nem no mundo dos homens que há. O Código Florestal pré-Aldo Rebelo, por exemplo, com o qual ela tenta comprometer Serra e Dilma (Plínio topa até coisa pior, como sempre), expulsaria milhares de pessoas de suas respectivas propriedades, devolveria à “floresta” (a floresta imaginária do Planeta Marina) áreas dedicadas à agricultura há dois séculos, golpearia gravemente a produção. Mas ela quer porque quer. Indagada sobre as conseqüências, ela vem com a cascata de que podemos usar a tecnologia desenvolvida pela Embrapa para aumentar a produtividade… Não! Com a aplicação do Código como estava, o resultado seria menos comida — e mais cara. Simples assim.
Eu não tenho mais paciência para isso, não! Não tenho dúvida de que Caetano Veloso e Wagner Moura sabem o que é melhor para a agricultura brasileira e para combater a fome no mundo. Afinal, um é cantor da MPB, e o outro é ator, e isso lhes confere enorme autoridade na área.
O que me espanta é que esse doce autoritarismo, essa conversa mole sem alvo, sem objeto, sem propostas objetivas, encante alguns supostos “bem-pensantes”.
É bem verdade que, caso se torne presidente um dia, Marina fará o que fez o seu partido de origem (na verdade, o seu real partido ainda hoje): repetirá a fórmula do “inimigo” dizendo fazer o contrário. O Bolsa Família deixaria de ser o carro-chefe da propaganda oficial, e entraria a sustentabilidade. O governo, como ela disse — e senti um estranho arrepio — se dedicaria a “pedagogizar” a sociedade, convencendo-a da necessidade do consumo responsável. Ou coisa assim.
“Pedagogizar”? Mao Tse-Tung era bom disso. Goebbels também. Arremato lembrando que nenhum autoritarismo se lança anunciando suas más intenções. Por Reinaldo Azevedo
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