Numa terça-feira de temperatura amena, após o feriado de 12 de outubro, “matava” a saudade observando a casa onde vivi parte da minha infância. Confesso que, além de saudosista, sou muito emotivo. O número 233 da Av. Rio Branco, no centro de nossa querida Afogados, traz-me inúmeras recordações. Por alguns minutos “viajei” no tempo. Fui buscar momentos de extrema felicidade. Lembrei-me que brincávamos de castanha, chimba ou bola-de-gude, triângulo, notas de cigarro, papagaio ou pipa, jogo de botão, pinhão, até com bola de meia improvisávamos uma movimentada partida de futebol. Êita! Ia esquecendo, também fazíamos apresentações de circo e teatro em nossas próprias casas. Eram tantas diversões, eram tantas alegrais, eram tantos os motivos que tínhamos para brincar e se sociabilizar com os demais colegas. Isso tudo de forma organizada, respeitando o período para cada modalidade de brincadeiras. A exceção eram o futebol, o garrafão e as batalhas de espada travadas entre os garotos das “ruas de cima” e os garotos das “ruas de baixo”. Quem participou sabe como eram as “lutas”: um paradoxo! Verdadeiros “combates” pacíficos.
De repente escuto alguém assoviar “Asa Branca” com uma naturalidade impressionante. A medida que executava sua tarefa, que faz há 8 anos como funcionário da prefeitura, ele conseguia falar com as pessoas com a mesma felicidade que transmitia ao solar com os lábios a canção de Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga. Perguntou-me se eu estava triste, disse-lhe que apenas pensava no passado. Daí surgiu uma rápida conversa e ousei indagar o porquê de sua satisfação ao varrer as ruas e o segredo para esbanjar tanta simpatia. Respondeu-me que apesar de nunca ter brincado como criança, nunca ter sentido o prazer de estudar, e ainda, só ter encontrado os verdadeiros pais quando tinha 9 anos de idade, carregava consigo um grande desejo: ser feliz. Acredita que sua felicidade é repassada pela alegria do seu filho, como também credita ao amor próprio e muito respeito para com a vida e as pessoas. Ele é Sílvio Medeiros, carinhosamente conhecido como “O varredor da alegria”, 28 anos pai de João Victor de apenas 3 anos. Fiquei impressionado com a grandeza que respondia aos meus questionamentos. O humilde homem demonstrava enorme personalidade e equilíbrio em seus diálogos com as inúmeras pessoas que o cumprimentava.
Nosso personagem é real e embora sem ter tido uma vida saudável enquanto criança, talvez porque não sabia que a infância existia enquanto categoria social e histórica antes que se entendesse como incluído na sociedade, venceu obstáculos, mesmo de forma involuntária, e hoje é um ser extremamente feliz. Que a nossa lembrança dos bons tempos da infância; que a força e a verdade do “Varredor da alegria” se reflitam na oportunidade de muitos João Victor serem felizes, muito felizes. Afinal, “a criança é a caricatura da felicidade dos adultos” e por isso, esperamos, sempre, que nossos filhos sejam a nossa imagem de felicidade.
Carlos Moura Gomes
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