No último dia 18 desse mês de setembro fui visitar um casal amigo na cidade de Paulo Afonso, BA, onde estive há 34 anos atrás. Foram 290 km, aproximadamente, percorridos pelos sertões de PE e BA. Ao passar por Petrolândia, pensei que tivesse errado o caminho. Logo do alto vi uma paisagem de emocionar qualquer ser humano, por mais insensível que possa parecer; eram as águas de Opará, como chamavam os índios. Na verdade era apenas parte do enorme volume de água do nosso querido Rio São Francisco. É simplesmente deslumbrante! Uma beleza indecifrável! Confesso que nos meus 53 anos jamais senti tamanha emoção, é como se uma paz espiritual tivesse tomado nosso corpo. Isso mesmo. Fiquei por algum tempo observando aquele mágico cenário, acreditando mais uma vez que a natureza, mesmo quando alterada, tem a proteção divina.
Dá orgulho de ver tamanha riqueza natural no alto sertão do meu nordeste. Mas como sertanejo não posso ignorar que bem próximo dali, a seca é uma eterna ameaça. As folhas caem e a terra endurece. Falta água para os irmãos vizinhos, tudo fica seco. Segundo dados do governo, são mais de trezentos municípios nordestinos que sofrem com a estiagem todos os anos. Então, como emprestar um pouco dessa água para ajudar a milhões de famílias por esse nordeste afora? Através da “transposição”. Transposição que inclusive está a todo vapor. Ora, todos nós sabemos que o Velho Chico é um rio que nasce na serra da Canastra, no estado de MG, a aproximadamente 1200 de altitude, atravessa o estado da BA, fazendo divisa ao norte com PE, bem como construindo a divisa natural dos estados de SE e AL. Depois deságua no Atlântico, drenando uma área de aproximadamente 641.000 km quadrados e atingindo 2.830 km de extensão. Também é sabido que o Rio da Integração Nacional quando atinge a zona sertaneja, apesar da intensa e natural evaporação, tem seu volume d’água diminuído, mas mantém-se perene. Barbosa Lima Sobrinho, escreveu pouco antes de sua morte que em relação ao tipo de obra, “vale lembrar o esforço dos Estados Unidos na construção de sua rede de canais navegáveis, cuja implantação facilitou e barateou o transporte de mercadorias, fortalecendo expressivamente o seu mercado interno”. Essa rede, que se assemelha a nossa da Transposição, que já em 1850 alcançava mais de 3.500 milhas de extensão, é até hoje considerada uma das principais bases do desenvolvimento americano. E não se pense que essa obra gigantesca foi construída pacificamente, de vez que a oposição à grandeza de seus custos, relativos à época, tentou de todas as formas a sua inviabilização, exatamente como ocorre aqui no Brasil com o pessoal que se mostra contra a Transposição do Rio São Francisco.
A Organização da ONU para a Agricultura e a Alimentação (FAO) afirma que “a falta de água é uma ameaça para o mundo social e econômico e para a sustentabilidade do meio ambiente”, e ainda, “a água é fonte de vida e desenvolvimento, mas o aumento da demanda e a escassez enfrentada por um grande número de pessoas no mundo inteiro, podem causar graves problemas de subsistência, e até guerras, por isso a necessidade de transportar, usar e compartilhar esse recurso natural”. Torçamos, então, para que a transposição alcance seus reais objetivos que é colocar água pra todos.
Carlos Moura
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