“Mas Dilma não pode defender a legalização do aborto?”

Ora, é claro que pode!
A democracia, que, felizmente, ainda é vigorosa no Brasil, permite-lhe defender o que bem entender, arcando com as conseqüências de suas escolhas. Isso é incontestável. O ponto rigorosamente não é esse.
O problema é que se tenta estabelecer uma zona de silêncio em torno da opinião da candidata, que, nos últimos meses, decidiu mudar de idéia e, na melhor tradição de seu partido, reescrever o passado.
Aqui e ali, lêem-se textos que sugerem que a sua defesa da legalização do aborto seria mera intriga dos adversários, dos “primitivos”, dos “reacionários católicos e evangélicos”.
O que há de “primitivo” e “reacionário” nisso? Se querem discutir “primitivismo” nessa área, podemos ir do conceito às imagens. Vamos ver qual seria, então, a real cara do “progressismo”. Qual é?
Este blog não faz debate oportunista. Não passei a pensar o que penso sobre o assunto por causa da eleição. Essa é Dilma, não eu. Já entrei em confrontos bem duros aqui por causa desse assunto, inclusive com o ministro da Dengue, José Gomes (Hené Maru) Temporão, que gosta de divulgar números perturbados sobre o tema e fez proselitismo sobre o assunto quando o papa estava no Brasil.
Qual é o ponto? Se um político passa a vida defendendo uma opinião e, de súbito, por causa das urnas, muda de idéia, a suspeita de que está praticando apenas eleitoralismo é grande, não é mesmo? A suspeita de que usará depois o cargo para pôr em prática o que realmente pensa é justificada e procedente.
Há algum furo lógico nisso que escrevo?

Por Reinaldo Azevedo